Como um raio, atravessa cada nervo de seu corpo, arrepiando-a. Ao toque da meia-noite, sempre certeiro, era o mês de dezembro.
Ela sabia que ele chegaria, era inevitável. Mas, esse ano um relance de esperança surgiu. O dito inferno astral, que ela se forçava a acreditar veio antes e sumiu sem sinal de voltar. Ela se encontarava feliz, pela primeira vez em muito tempo, no mês de novembro.
Como era de se esperar um relacionamento dela acabou em pleno inferno. Ou acabava ou começava. Era uma regra, silenciosa e injusta. Inesperadamente, este inferno inrregular, trazia esboços de um começo. Seria possível ?
Enquanto cada pêlo do corpo da jovem se arrepiava, uma carência lhe subia pela espinha. Não havia sentido. Mas a crença certeira lhe trazia, no soar dos sinos das cidades históricas, a solidão típica do mês.
Não há palavras para descrever as cicatrizes de dezembro. Há, ao se olhar atentamente, um olhar profundo, magoado e sofrido, com aspirações de tristezas por trás da careta e da língua de fora. Detalhes que apenas um não-tolo podia notar.
O raio se exprimia de modo a contaminar cada canto daquelas quatro paredes. Dezembro, o mês celebre, contaminava o mundo e aquele canto branco.
Em meio a escuridão da luz artificial apagada, colocava a suas mãos brancas com esmaltes descascados em torno de uma vela. Estava tão próxima a chama. Aquele fio de luz que permanecia em meio o rito que fazia. Queimar o passado, se preparando para o futuro.
Tinha que ser apenas mais um mês. Dessa vez tentaria não ceder ao raio. Aquele sorriso que esboçava havia dias, iria permanecer. Essa era a sua promessa, seu desejo, sua meta traçada cuidadosamente para alimentar a sua chama e a sua deusa.
E esse sorriso seria a sua única resposta ao raio, ao badalar e ao novo mês.